Acompanho a subida rumo ao inferno por um site estatístico, o worldometers.info, que atualiza as curvas e tabelas em tempo real com o número de casos e de mortes causadas pela covid-19 mundo afora. É uma rotina funesta, sempre a expectativa de um agora vai, no pior sentido, o de que a doença desembarque por completo aqui no Brasil e a gente saiba a dimensão exata da desgraça que temos pela frente. Na semana passada, estávamos comportadamente no pelotão das dezenas de fatalidades, e uma sensação vitoriosa de que o confinamento produzia efeitos e que o Mandetta seria guardião de alguma sensatez redentora no governo ainda dominava. Nos últimos dias, o cenário se agravou para além da centena de mortos diária, pulamos na tabela para o oitavo lugar em número de novos casos e a insegurança sobre a capacidade do Estado gerenciar a crise também aumentou.
Entre todo o inacreditável que possa lembrar, a série recente de ofensas e provocações à China vai para o trono com certeza. Aliás, trono que se noticia o Bolsonaro agora ocupa, como figura decorativa, mas ainda capaz de atazanar toda uma estratégia de combate à doença propagando de forma tresloucada o uso de medicações em teste. Pensa encobrir com isso o descaso que demonstrou insistentemente com a questão, além do abandono e o desfinanciamento ao sistema de saúde, de colapso iminente e desde sempre anunciado. Imagine-se agora, a contarmos com a boa vontade dos chineses em fornecer insumos e expertise ao Brasil.
Não é hora de torcer pelo pior, sem dúvida, e alguém devia ter avisado disso o presidente e seu staff. Vamos tentar evitar o pânico o tanto possível, enquanto o Mandetta purga seu passado de crítico do Mais Médicos fazendo as vezes de embaixador em Pequim – parece que já conseguiu progresso com um lote numeroso de máscaras que se poderia desviar da pirataria indecente do Trump. Que bom, mas continue em casa, nada de comemorar pequenos alentos pensando que agora vai.
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Anteontem escrevi sobre o Bolsonaro e o post do facebook se encheu de apoiadores a defendê-lo, com as habituais gentilezas e recomendações do tipo vai pra Cuba, o que seria bem sensato nesse momento. A medicina cubana é certamente sonho de muitos infectados pelo vírus, mas fora de questão já que os vôos estão suspensos. A quem ameaçou deixar de me seguir se eu continuar falando de política, aparentemente em desaponto pelos últimos quarenta anos, deixo meu amparo: força, guerreiro, você consegue.
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Enquanto não atualizo a videoteca, por uma pandemia técnica aqui do home estúdio, deixo ao menos um link aqui mesmo para o canal do Bob Fernandes, que é sempre um show de clareza, informação e síntese. O vídeo desta semana é longo mas vale cada minuto. E aproveite também pra conferir o da entrevista com o Gregório Duvivier, outro farol de lucidez e bom humor.
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